quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Modernismo no Brasil:Primeiro momento

Literatura:Cassiano Ricardo


Cassiano Ricardo Leite, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895 e morreu no Rio de Janeiro
em 1974. Tendo participado do movimento modernista e de grupos que se lhe sucederam, Cassiano Ricardo soube aproveitar como poucos o Indianismo, uma das influências do momento, tomando-o como base de uma autenticidade americana. ‘Martim Cererê’, seu livro mais conhecido, traduzido para muitos idiomas e ilustrado por Di Cavalcanti, se fundamenta no mito tupi do Saci-Pererê, manifestando uma conciliação das três raças formadoras da cultura nacional, a indígena, a africana e a portuguesa. Mesclando essas três fontes lingüísticas, ele elabora o que foi chamado de "mito do Brasil-menino". Modernista e primitiva a um só tempo, brasileira sem ser nacionalista, sua estrutura lembra alguns elementos da história em quadrinho e dos filmes de animação, prenunciando a pop art. Além de ter escrito esse livro clássico da literatura brasileira, Cassiano Ricardo manteve, até o fim de sua vida, uma pesquisa poética experimental e independente, acompanhando de perto os novos movimentos de vanguarda, sobre os quais escreveu. Seu último livro, 50 anos após o de estréia, exemplifica essa constante inquietação.
Obras:
Dentro da Noite (1915)
Vamos Caçar Papagaios (1926)
Borrões de Verde e Amarelo (1926)
Martim Cererê (1928)
O Sangue das Horas (1943)
Um Dia Depois do Outro (1947)
Poemas Murais (1950)
A Face Perdida (1950)
O Arranha-Céu de Vidro (1956)
Poesias Completas (1957)
22 e A Poesia de Hoje (1962)
Algumas Reflexões sobre Poética de Vanguarda (1964)
Jeremias Sem-Chorar (1964)

Resumo do poema Martim Cererê:

Publicado em 1928 ( ano do Manisfesto Antropófago de Macunaína e do radicalismo primitivista) , representa o ponto alto da vertente nacionalista e ujanista do verdeamarealismo. Constituido de poemas de rítmo e forma vária, como um "livro de figuras", aproxima- se da técnica do desenho animado ou da estórias em quadrinhos. O carácter épico e narrativo de Martim Cererê foi alvo de trabalhos tentando dimensionar a participação desses elementos, de qualquer modo, identificáveis no lendário, na visão estética do mito, na universalidade do sentimento que procura o elemento estrangeiro para salientar o elemento nacional, especialmente nas aproximações com o Ulisses grego: "Um belo dia, chegou um marinheiro e ouviu o canto da Uiara. Não se faz amarrar ao mastro do navio, nem mandou tapar os ouvidos dos marinheiros. Foi logo à terra e ofereceu-se para casar com ela". O enredo desenvolve a lenda do surgimento da noite e do desenvolvimento do Brasil. O índio Aimberê e o marinheiro branco Martim apaixonam- se pela Uiara, estando disposta a se casar com aquele que lhe trouxesse a noite. Martim vai a Àfrica e traz a noite que são os negros escravos. Desta união, surgem os bandeirantes, que desbravam os sertões, plantam o mar verde dos cafezais e constroem as fábricas e arranha-céus da metrópole paulistana. O poema fala da formação do Brasil, resultante da oposição entre o mundo primitivo, da fantasia, dos mitos (ontem") e "a vida rodando fremindo batendo martelo (hoje) . Dentro da proposta do Verde amarelismo e do grupo da Anta. Para se chegar ao progresso foi preciso "engolir" as matas, o índio, o café e tudo o que procurasse interromper a marcha do progresso. " Os tupis desceram para ser absorvidos. Para se diluírem no sangue da gente nova" ( Manisfesto da Anta) Observe que o Totem dos tupis , a anta não é carnívora. Observe também a oposição entre as propostas da corrente nacionalista e da primitivista ( antropofagia).


A Notícia:
Cassiano Ricardo

Então o vento
lá dentro da serra,
onde apenas havia
o barulho insensato
das coisas sem nome
começou a bater
a bater rataplã
no tambor da manhã.

Então os ecos
saíram das grutas
levando a notícia
por todos os lados.

Então as palmeiras
ao fogo do dia,
em verde tumulto,
pareciam marchar
carregando bandeiras.

Depois veio a Noite
e os morros soturnos
levavam estrelas
por vales e rochas
como uma silente
corrida de tochas…

Em: Martim Cererê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário